Homenagem Ana Picasso

[invocator]

Em visita à Turquia por ocasião da estreia de «Alexandre, o Grande», o realizador pediu desculpas e lamentou que muitas pessoas tivessem ficado magoadas no país com o filme «O Expresso da Meia-Noite» em 1978.

Numa visita à Turquia esta terça-feira, 14 de Dezembro, o realizador Oliver Stone pediu desculpa por ter ofendido o país com o filme «O Expresso da Meia-Noite», cujas cruas imagens das condições prisionais e da brutalidade têm ensombrado o país desde então.

Oliver Stone disse que lamentava que muitas pessoas tivessem ficado magoadas nesse país após o lançamento de «O Expresso da Meia-Noite» em 1978, acrescentando que tinha sido mal interpretado. Baseado nas memórias de Billy Hayes, o filme contava a história de um estudante americano (Brad Davis) que, na companhia da sua namorada, se preparava para sair da Turquia quando foi apanhado na posse de haxixe, e condenado a décadas de prisão nas brutais prisões turcas. Aí, conhece outros ocidentais, mas é sujeito a inúmeras sevícias por parte das autoridades prisionais, enquanto o seu pai tenta obter a sua libertação, apenas para verificar que o sistema judicial turco pretende fazer do seu filho um exemplo para outros traficantes.

O filme foi nomeado para 6 Óscares, ganhando os de argumento adaptado, da autoria de Oliver Stone, e Banda Sonora. Nomeado ainda para Melhor Filme, Actor Secundário (John Hurt), Realização e Montagem, «O Expresso da Meia-Noite» teve um enorme impacto no final dos anos 70. As pavorosas cenas prisionais de violação e tortura destruíram a imagem da Turquia no plano internacional e perseguiram o país desde então. Stone foi vilipendiado no país, sendo acusado de ter tido liberdades com o livro e escrito um argumento racista em que todas as personagens turcas surgem retratadas como vilões cruéis e pervertidos, enquanto os estrangeiros surgiam como "puros" e defensores dos bons valores.

Oficialmente, Oliver Stone estava em Istambul para promover o seu último filme, «Alexandre, o Grande», mas as atenções rapidamente passaram para o filme de 1978 com um argumento da sua autoria, ainda que realizado por Alan Parker. Numa declaração escrita em turco e entregue pelo distribuidor nacional do seu último filme, Stone diz que lamentava "ter sido mal interpretado" e que "muitos corações tivessem sido partidos na Turquia" por causa de «Midnight Express». O jornal diário Sabah escreveu na terça-feira que "Oliver Stone veio fazer a paz".

Por causa dos efeitos do seu filme, há bastantes anos que Stone pretendia visitar o país, mas não se sentia seguro por saber que o povo turco estava zangado com ele. O ministro da Cultura e Turismo Erkan Mumcu deu garantias de segurança que deixaram o realizador confortável. Em entrevista à Associated Press aquando da sua estadia no país, Stone disse que nunca tencionou que o filme fosse contra a Turquia, "era contra a injustiça... em todo o lado". Na sua primeira visita ao país desde o lançamento do filme há mais de duas décadas, o realizador admitiu que "exagerou" o argumento, reconhecendo que talvez alguma da falta de zelo e alguma da revolta de que é acusado ter colocado na sua história tivesse sido provocada por ser novo e tentar mostrar a sua causa de forma demasiado veemente. Mas acrescentou que "foi verdade que Billy Hayes foi tramado no sistema turco. Ele foi condenado por quase nada a 30 anos e foi tratado brutalmente na prisão. Isto está tudo documentado" e que "a realidade das prisões turcas da altura também estava referenciada por várias organizações de Direitos Humanos".

"A perspectiva mais vasta é que a Turquia não é o único país cujo sistema judicial não está a funcionar. Os Estados Unidos têm problemas semelhantes. Oliver Stone recordou que foi assobiado quando, ao receber o prémio pelo argumento nos Globos de Ouro em 1979, sugeriu que os Estados Unidos olhassem com mais atenção ao seu próprio sistema prisional.

A Turquia tem tido uma má imagem em termos de Direitos Humanos ao longo de décadas, mas os turcos dizem que o retrato do filme foi bastante exagerado. É igualmente referido que, nos últimos anos, o governo turco tem tido uma política de "tolerância zero" em relação à tortura e tem realizado reformas para ir de encontro às exigências da União Europeia, organização com a qual vai iniciar negociações de adesão em 2005, com vista a uma entrada em 2015.

As afirmações de Oliver Stone foram recebidas com alívio no país e o realizador foi recebido por Mumcu, com quem discutiu a possibilidade de levar a cabo projectos conjuntos no país, que recentemente adoptou legislação para encorajar produtoras estrangeiras a filmar na Turquia.

«O Expresso da Meia-Noite» foi banido inicialmente no país, mas viria mais tarde a ser exibido nas televisões nacionais.

in Cinema2000

O expresso da meia-noite foi dos filmes que mais me marcou e é sem duvida um dos meus filmes preferidos