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As maiores calinadas nos exames nacionais


Jokeman
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As maiores calinadas nos exames nacionais

Ricardo Reis, heterónimo de Fernando Pessoa, passava a roupa a ferro e havia uma corrente artística chamada pintelhismo. Estes foram os dois erros mais dramáticos dos exames nacionais deste ano. Nos testes ou nas aulas, os disparates são muitos: há quem tenha dito que Lenine e Stalone eram líderes comunistas e que Salazar foi um rei.

(...) E assim, Lídia, à lareira, como estando/deuses lares, ali na eternidade/Como quem compõe roupas/O outrora componhamos/Nesse desassossego que o descanso/Nos traz às vidas quando só pensamos/Naquilo que já fomos/E há só noite lá fora. O poema de Ricardo Reis, impresso no enunciado do exame nacional de Português do 12.ºano, fez a vida negra aos estudantes; foi-lhes pedido para explicitarem os valores simbólicos do espaço e do tempo em que ocorrem as recordações do passado, mas alguns dos alunos, em vez de se referirem à lareira como símbolo de tranquilidade e de segurança e à noite como tempo de eleição em Ricardo Reis para representar a velhice e a aproximação da morte, preferiram explorar uma interpretação mais livre.

Alguns responderam que Ricardo Reis pôs-se à lareira porque tinha vindo do trabalho e estava cansado. Outros optaram por argumentar que o heterónimo de Fernando Pessoa esteve a compor a roupa e foi para a lareira para descansar das lides domésticas. Houve quem dissesse que tinha acabado de passar a ferro. E ainda: O tempo em que ocorreram as recordações estava mau e por isso ele foi para a lareira.

A má prestação generalizada nesta resposta, que valia quatro pontos e meio, contribuiu para que a média do exame de Português igualasse o pior resultado de sempre: 8,9 valores. Acho que as provas tinham duas ou três perguntas dúbias, que davam azo a respostas disparatadas. Essa, por exemplo, requeria um conhecimento simbólico que muitos dos alunos não possuem, diz Ediviges Ferreira, da Associação de Professores de Português. A docente constata, porém, que apesar de as avaliações nos exames serem mais baixas, os estudantes não cometem tantas calinadas como no período de aulas. Num teste já li que o sermão do Padre António Vieira não era actual porque hoje os peixes vivem em aquários e, durante a exibição do filme do Frei Luís de Sousa, quando o romeiro fala do Dia do Juízo Final, chegaram a perguntaram-me a que dia da semana calhava esse Dia do Juízo, conta.

Mas nem só a língua portuguesa foi maltratada nos exames nacionais. A média de 12 das 19 disciplinas do secundário que contemplam exames nacionais foi negativa. O resultado da prova de Matemática foi o pior dos últimas sete anos: média de 8,2 com uma taxa de reprovações de 20%.

Já num exame do ensino profissional, na cadeira de História da Cultura e das Artes, um estudante, questionado sobre o papel das universidades na Idade Média, disse servirem para conviver e socializar. Outro, numa tirada para maiores de 18, confundiu a corrente artística do pontilhismo com pintelhismo.

Contudo, foi nas disciplinas científicas que se registaram os resultados mais fracos. Física e Química A, com uma média de 7,8, continua a ser o exame mais aziago no universo do ensino secundário. Carlos Caldeira, da Sociedade Portuguesa de Física, diz que a cadeira é extremamente exigente, pois condensa a matéria das ciências experimentais com conhecimentos de cálculo matemático e de português. No exame deste ano, muitos alunos falharam numa questão que lhes pedia para explicar a taxa de transferência de energia de uma cafeteira de água quente para o meio ambiente. Muitos deles sabiam a resposta mas careciam de capacidade argumentativa para invocar e desenvolver as leis, baseando-se em demasia no senso-comum.

Irene Mota, professora de Física em Lisboa, não esquece o teste em que um aluno, a quem foi pedido para escrever sobre a gravidade lunar, respondeu: Na Lua não há gravidade, mas sim lunidade.

A maior sumidade na recolha dos disparates dos estudantes portugueses é Luís Mascarenhas Gaivão, 64 anos, que compilou em três livros História de Portugal em Disparates, Nova e Inédita História de Portugal em Disparates e História Desatinada de Portugal as alarvidades redigidas pelos seus pupilos durante os seus 26 anos de carreira. Há gafes que são muito frequentes. Uma delas está relacionada com o poder dos media e com o que os miúdos ouvem a toda a hora. Se hoje perguntasse num exame quem é Jesus, muitos responderiam que é treinador do Benfica, diz Gaivão. No início dos anos 80, o treinador do Benfica era o Lajos Baróti e cheguei a ler respostas como Portugal expulsou os espanhóis na Batalha de Lajos Baróti, quando queriam dizer batalha de Aljubarrota. Também era conhecida como Batalha de Alves Barrota, conta o professor.

Gaivão leu as coisas mais inacreditáveis; que os maiores monumentos manuelinos são a Sé da Catedral, o Mosteiro do São Jerónimo e a Janela do Ventre do Cristo, que Marcello Caetano foi o Rei que sucedeu ao Rei Salazar e que Humberto Delgado foi o soldado português que se revoltou contra a República. A este último, ouviu chamarem-lhe tudo: Alberto Delgado, Humberto Delegado e até Humberto Coelho. Tal como Zeca Afonso, que um rapaz chamou de Seca Afonso ou Otelo Saraiva de Carvalho, apelidado de Otovelo e Hotelo.

A História é uma das disciplinas mais propícias às respostas disparatadas, diz Gaivão. Há uma grande confusão de tempos históricos, há muita dificuldade na análise do tempo recuado e muita tentativa de memorização sem compreesão dos factos. O professor levou centenas de vezes as mãos à cabeça, mas também se lembra de algumas gargalhadas. Leu que os primeiros colonizadores dos Açores tinham sido os flamingos e os almaricanos e que a Cabo Verde chegaram os finlandésios, que a União Nacional era o livro do Salazar com as ideias dele e que a PIDE prendia os que estavam contra o Estado Novo e triturava-os.

Mas a lista de imprecisões históricas é muito extensa. Dos quatro professores desta disciplina com que o SOL falou, todos tinham memória de disparates épicos: Os escravos dos romanos eram fabricados em África, mas não eram de boa qualidade; Ao princípio os índios eram muito atrasados mas com o tempo foram-se sifilizando; Os utensílios usados no neolítico eram tachos e panelas; Os antigos egípcios desenvolveram a arte funerária para que os mortos vivessem melhor; Na II guerra mundial toda a Europa foi vítima de barbie (barbárie) ou Lenini e Stalone eram comunistas na Rússia. Estela Gaspar, professora de Lisboa, jamais esquecerá a resposta de uma aluna à pergunta: Qual o ideal do homem do Renascimento?. O homem ideal do Renascimento é o João, do 10.ºA, porque renasceu para mim.

Também em Geografia se cometem erros crassos. Este ano a média desceu de uma fasquia positiva (10,3) para a zona de chumbo (9,4). O principal problema é não haver hábitos de leitura. Há alunos inteligentes que sabem a matéria mas perdem tudo por não terem capacidade de escrita, diz Emília Lemos, presidente da Associação de Professores de Geografia. Têm mais dificuldade com conceitos abstractos. Confundem o aquecimento global com o buraco do ozono. E as matérias em que erram mais são o estado do tempo e a circulação geral da atmosfera e a Política Agrícola Comum.

No entanto, há gafes em temas mais simples. Emília Lemos já leu num teste que os climas temperados não têm continentes a sul do Equador. E, no passado, outros professores de Geografia embasbacaram-se com frases como: A Latitude é um circo que passa por o Equador, dos zero aos 90º e o caudal de um rio, é quando um rio vai andando e deixa um bocadinho para trás.

No ano passado, uma aluna da região norte do país teimou durante uma apresentação que Miami ficava na Alemanha.

Em alguns fóruns dedicados ao ensino, também há registos das respostas mais estapafúrdias nas matérias ligadas à Biologia e às Ciências Naturais. Frases como: A Terra vira-se nela mesmo e a esse difícil movimento chama-se arrotação, as aves têm um dente na boca que se chama bico ou O coração é o único órgão que funciona 24 horas por dia.

Mais do que as bacoradas, que a generalidade dos docentes atribui a lacunas de concentração, nervosismo, falta de bases de estudo e leitura e enunciados dúbios, os professores mostram-se preocupados com problemas mais estruturais, como a actualidade do sistema de ensino ou os erros derivados das transformações sociais. Emília Lemos, por exemplo, considera que as empresas já não procuram as mesmas valências que as escolas privilegiam: A nova geração está habituada a uma sociedade em que tudo se faz a uma grande velocidade e às consolas, em que se passa de nível num instante, num processo completamente diferente do da acumulação de saber, que é lento. Temos um sistema de ensino Fordista. Já não faz sentido ter os alunos sentados a ouvir o professor até às 17h. Isso já era!, diz. Por sua vez, Paulo Guinote, professor de Português e autor do blogue A Educação do Meu Umbigo, constata a emergência de alguns erros derivados das novas tecnologias da informação: Em pequenos exercícios de produção escrita, como seja o pedido para escrever um convite ou uma pequena carta, foi-se tornando comum a escrita típica dos sms ou das mensagens de chat, incluindo abreviaturas como pk (porque), ou termos de origem inglesa, mais ou menos adulterados, como luv (love-amor).

Fonte: http://sol.sapo.pt/inicio/Vida/Interior.aspx?content_id=80783

É longo, mas vale a pena. :lol:
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Tenho para mim que a maior parte dessas respostas são puro gozo de alunos insolentes. MAs a vida é dura para quem é mole, sempre ouvi dizer. E, tão certo como o sol nascer a cada dia, mais uns anitos e arrependem-se da chico esperteza.

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Os putos agora parece que são mais burros que antigamente, o que nem faz muito sentido, se atendermos ao facto de terem acesso à informação de forma muito mais simples e rápida do que quem estudou há 15 ou 20 anos atrás, tinha. No entanto, o mal é capaz de ser mesmo isso... :unsure:

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Eu acho que não é hoje o pessoal ser mais burro é que dantes se fosses burro ficavas pelo quarto ano e ias trabalhar agora andas na escola até aos 20 anos sejas burro ou sejas esperto, o pessoal ainda chumba uma vez ou outra mas os professores acabam por passar, ou seja, acaba por chegar pessoal mais burro a estes exames.

Mas verdade seja dita, a maior parte do que se aprende a Português não serve para nada, posso ser o único mas não percebo porque é que damos textos que se alguém falasse como está lá escrito toda a gente chamava-se maluco, alguns é pela cultura mas outros são mais atuais e simplesmente estão escritos numa maneira que ninguém fala. Depois temos o pessoal a dar erros atrás de erros porque quando anda na escola em vez de aprender o português que realmente se usa anda a aprender coisas que ninguém usa, ou será que é útil para alguém saber escrever como o camões?

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Por uma questão de cultura e de interpretação do mundo que te rodeia, seja no trabalho ou na vida privada.

Por exemplo, interpretar os requisitos de um cliente e perceber o que é que ele quer de determinado produto.

Edited by Green Hawk
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Não tem a ver com burrice ou espertice, nos que correm há é muito mais distrações e muito mais negligência, as novas tenoclogias em vez de ajudar desajudam.

Hoje em dia os miudos passam a vida fixados nos Smartphones, nos Tables, na Internet mas em vez de aprenderem alguma coisa só queimam os miolos com jogos, chats, redes sociais e outras merdas, já para não falar nos correctores de texto e no facto de já nem saberem escrever porque estão demasiado fixados na escrita de "sms".

Fico escandalizado com as péssimas notas que os muidos tem em disciplinas tão básicas como Português.

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O que eu vou dizer pode parecer de alguma forma ridículo, mas fico é escandalizado com o quão alta é a média de notas a Matemática. Tenho ideia que no meu tempo era bem inferior tipo a rondar os 5 ou 6 valores.

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