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A DanBrownização do mundo (ou a necessidade da teoria da conspiração)


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Li este artigo de opinião bastante interessante, e com o qual concordo.

A DanBrownização do mundo (ou a necessidade da teoria da conspiração)

A "sociedade da informação" é uma das grandes farsas do nosso tempo. Perdão, deixem-me ser mais delicado: a "sociedade da informação" é uma utopia. Nunca existiu tanta informação disponível, nunca foi tão fácil obter os dados que nos permitem pensar um dado tema, nunca existiu tamanha ausência de paredes e segredos, mas curiosamente este é um tempo de mitos, negação e irracionalismo. Porquê? Nas internets, a malta procura apenas aquilo que confirma os seus preconceitos. No optimismo da "sociedade da informação", a internet e demais meios deviam formar pessoas racionais. O efeito, porém, foi o inverso: a internet está a alimentar a irracionalidade. Em várias discussões, de nada vale apresentar factos insofismáveis, números concretos, argumentos sérios e sólidos. Porquê? Porque existe sempre um link em Singapura ou na Tasmânia que diz o contrário e a malta agarra-se a esse link como se fosse a verdade revelada. O link tem informação falsa? Sim. Mas essa falsidade espalha-se milhões de vezes nos Facebooks e nos Twitters e, no final do dia, já é verdade. Lenine meets Zuckerberg.

A quantidade de teorias da conspiração é talvez a maior característica deste irracionalismo internético. A realidade é complexa e poeirenta, explicá-la exige um raciocínio com diversas pontas e causas, mas isso não vende. A malta só quer uma realidade transformada em slogan conspirativo. A realidade tem de ficar submetida a um plano, a uma conspiração. Desta forma, um objecto com múltiplas causas e coberto pelo manto do caos é transformado no produto de uma única maquinação, que, claro, tem um único vilão. A existência de um mal não é tolerada como a consequência de uma variedade de causas, e nem sequer é tolerada no sentido trágico, isto é, não se aceita que um mal possa ser um efeito inesperado de uma acção que procurava algo positivo. Nada disso. Perante o caos do real, a malta precisa de uma ficção quasi-literária que facilite a digestão do mundo.

Exemplos? A seguir ao 9/11, o livro mais vendido em França garantia que o atentado tinha sido organizado pela CIA. E, durante anos e anos, Bush foi o imperador responsável por todos os males do planeta. Tudo tinha de acabar em Bush, até os desastres naturais. Agora, Merkel é um Bush em saias e a crise europeia, ora essa, é apenas o efeito da acção malévola da Alemanha que, como toda a gente sabe, está a tentar dominar a Europa com o seu panzer secreto, o Euro. Mais exemplos? Já perdi a conta às teorias da conspiração sobre o catolicismo. Dan Brown não inventou nada, apenas coligiu o ar do tempo do engraçadismo anti-católico. De igual modo, já perdi a conta às teorias da conspiração sobre a Maçonaria. E é curiosa a forma como os autores destas teorias não reparam logo à partida no seu imenso ridículo: se quiser fazer tráfico de influências, um sujeito tem mesmo de se enfiar numa sala cheia de gajos em avental? Aliás, se perdessem 5 minutos a pensar, as pessoas iriam reparar que todas as teorias da conspiração são, na verdade, comédias. Mas, lá está, a malta não quer pensar. A malta está apenas no business de postar de forma instantânea.

Autor: Henrique Raposo

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